<em>Tyco</em>: um exemplo de exploração
Em Évora, a Tyco, apresentada como modelo de inovação e de utilização de mão-de-obra altamente qualificada, encontra-se, de facto, na linha da frente da exploração e opressão dos trabalhadores. Com a imposição do contrato de trabalho do patrão, a empresa ganha mais um mês de trabalho por ano.
A velha questão do tempo de trabalho e do seu eterno prolongamento está bem presente no dia-a-dia de milhares de homens e mulheres. Está também presente na saúde física e psíquica destes trabalhadores. O envelhecimento precoce, as doenças músculo-esqueléticas, as depressões nervosas são alguns exemplos de sequelas a que estão sujeitos.
Em «O Capital» são muitas as descrições dos inspectores fabris que Marx recupera, destacando as mazelas, as mortes na vida dos trabalhadores no século XIX, caracterizando, a partir da realidade, o sistema capitalista e a exploração.
Apesar dos exemplos serem vários, proponho que nos concentremos em Évora, numa das empresas que permitem ao Governo afirmar a alteração do perfil produtivo português e a alteração do paradigma da competitividade.
A ilusão e o roubo
Praticando baixos salários, insuficientes para fazer face às necessidades das famílias, a Tyco impõe à maioria dos trabalhadores um contrato de trabalho que transforma as 8 horas diárias e os 5 dias por semana em períodos de trabalho concentrado, de 12 horas durante 4 dias, com direito a 4 dias de descanso.
Este contrato de trabalho cria a ilusão de que, nos 4 dias de descanso, os trabalhadores poderão ganhar um salário suplementar, resultante de um trabalho a tempo parcial, na maioria das vezes precarizado e mal pago.
Esta ilusão de alargamento da remuneração tem como consequência, a médio prazo, o agravamento das condições de vida, em resultado do surgimento de problemas de saúde, relacionados com a fadiga e com o trabalho contínuo e repetitivo, por períodos demasiado prolongados. Se a estas questões somarmos a diminuição do tempo livre, facilmente percebemos a ilusão.
Lembremo-nos que os trabalhadores, despojados dos meios de produção, vendem a sua capacidade de trabalhar, em troca da possibilidade de satisfazerem as suas necessidades. Neste caso, poderemos supor que as necessidades a satisfazer crescem, pelo menos, acompanhando o aumento das necessidades de repouso, de consumo de meios de transporte para um novo local de trabalho e, entre outras, o pagamento a alguém que ficará a tomar conta das crianças, em substituição do tempo e responsabilidades que estes trabalhadores deveriam reservar para a vida familiar.
Desta forma, verificamos que o tempo de trabalho, que estes trabalhadores passam a cumprir, poderá ser insuficiente para fazer face às novas necessidades.
A aparência ilude ainda mais. A verdade é que estes trabalhadores passam a trabalhar mais horas, vêem a sua jornada de trabalho média crescer, resultando mesmo na apropriação de um mês de trabalho a mais pelo patrão. O que, mesmo sem grande domínio da teoria marxista, permite ao comum dos mortais concluir que a exploração, de facto, existe e agrava-se.
A jornada de trabalho, neste contrato do patrão, deve ser analisada da seguinte forma: a 365 dias por ano são deduzidos 25 dias de férias, resultando 340 dias, os quais deveremos dividir em períodos de 8 dias; estes 42,5 períodos de 8 dias deverão ser multiplicados por 4 períodos (dias de trabalho) de 12 horas; o resultado são 2 040 horas de trabalho por ano. De acordo com a legislação do trabalho, este total anual, dividido por 52 semanas, respeita o limite de 40 horas semanais, num período de 12 meses.
O aumento da exploração capitalista resulta do aumento do número de horas trabalhadas e não remuneradas. Vejamos: se 365 dias forem divididos por períodos de 7 dias, resultam em 52,1 semanas por ano; a estas deduzimos os mesmos 25 dias de férias, ou sejam, 5 semanas, restando 47 semanas; multiplicando estas 47 semanas por 40 horas semanais (8 horas de trabalho em cada um dos 5 dias) obtêm-se 1 880 horas de trabalho por ano.
Da diferença entre 2 040 e 1 880 horas podemos concluir que estes trabalhadores, por conta do contrato do patrão, trabalham mais 160 horas por ano, o que representa 4 semanas de 40 horas.
Apesar das dificuldades, há quem resista. Apesar da repressão, um conjunto de trabalhadores não aceita a aplicação do contrato do patrão. O conhecimento e a divulgação deste roubo a que os trabalhadores da Tyco são levados a sujeitar-se servirão para mobilizar mais, para resistir mais.
Nesta fase da luta pela construção de uma sociedade liberta da exploração, a capacidade de resistir é uma vitória. Sem lutar não seremos capazes de resistir. Só lutando conseguiremos vencer!
A velha questão do tempo de trabalho e do seu eterno prolongamento está bem presente no dia-a-dia de milhares de homens e mulheres. Está também presente na saúde física e psíquica destes trabalhadores. O envelhecimento precoce, as doenças músculo-esqueléticas, as depressões nervosas são alguns exemplos de sequelas a que estão sujeitos.
Em «O Capital» são muitas as descrições dos inspectores fabris que Marx recupera, destacando as mazelas, as mortes na vida dos trabalhadores no século XIX, caracterizando, a partir da realidade, o sistema capitalista e a exploração.
Apesar dos exemplos serem vários, proponho que nos concentremos em Évora, numa das empresas que permitem ao Governo afirmar a alteração do perfil produtivo português e a alteração do paradigma da competitividade.
A ilusão e o roubo
Praticando baixos salários, insuficientes para fazer face às necessidades das famílias, a Tyco impõe à maioria dos trabalhadores um contrato de trabalho que transforma as 8 horas diárias e os 5 dias por semana em períodos de trabalho concentrado, de 12 horas durante 4 dias, com direito a 4 dias de descanso.
Este contrato de trabalho cria a ilusão de que, nos 4 dias de descanso, os trabalhadores poderão ganhar um salário suplementar, resultante de um trabalho a tempo parcial, na maioria das vezes precarizado e mal pago.
Esta ilusão de alargamento da remuneração tem como consequência, a médio prazo, o agravamento das condições de vida, em resultado do surgimento de problemas de saúde, relacionados com a fadiga e com o trabalho contínuo e repetitivo, por períodos demasiado prolongados. Se a estas questões somarmos a diminuição do tempo livre, facilmente percebemos a ilusão.
Lembremo-nos que os trabalhadores, despojados dos meios de produção, vendem a sua capacidade de trabalhar, em troca da possibilidade de satisfazerem as suas necessidades. Neste caso, poderemos supor que as necessidades a satisfazer crescem, pelo menos, acompanhando o aumento das necessidades de repouso, de consumo de meios de transporte para um novo local de trabalho e, entre outras, o pagamento a alguém que ficará a tomar conta das crianças, em substituição do tempo e responsabilidades que estes trabalhadores deveriam reservar para a vida familiar.
Desta forma, verificamos que o tempo de trabalho, que estes trabalhadores passam a cumprir, poderá ser insuficiente para fazer face às novas necessidades.
A aparência ilude ainda mais. A verdade é que estes trabalhadores passam a trabalhar mais horas, vêem a sua jornada de trabalho média crescer, resultando mesmo na apropriação de um mês de trabalho a mais pelo patrão. O que, mesmo sem grande domínio da teoria marxista, permite ao comum dos mortais concluir que a exploração, de facto, existe e agrava-se.
A jornada de trabalho, neste contrato do patrão, deve ser analisada da seguinte forma: a 365 dias por ano são deduzidos 25 dias de férias, resultando 340 dias, os quais deveremos dividir em períodos de 8 dias; estes 42,5 períodos de 8 dias deverão ser multiplicados por 4 períodos (dias de trabalho) de 12 horas; o resultado são 2 040 horas de trabalho por ano. De acordo com a legislação do trabalho, este total anual, dividido por 52 semanas, respeita o limite de 40 horas semanais, num período de 12 meses.
O aumento da exploração capitalista resulta do aumento do número de horas trabalhadas e não remuneradas. Vejamos: se 365 dias forem divididos por períodos de 7 dias, resultam em 52,1 semanas por ano; a estas deduzimos os mesmos 25 dias de férias, ou sejam, 5 semanas, restando 47 semanas; multiplicando estas 47 semanas por 40 horas semanais (8 horas de trabalho em cada um dos 5 dias) obtêm-se 1 880 horas de trabalho por ano.
Da diferença entre 2 040 e 1 880 horas podemos concluir que estes trabalhadores, por conta do contrato do patrão, trabalham mais 160 horas por ano, o que representa 4 semanas de 40 horas.
Apesar das dificuldades, há quem resista. Apesar da repressão, um conjunto de trabalhadores não aceita a aplicação do contrato do patrão. O conhecimento e a divulgação deste roubo a que os trabalhadores da Tyco são levados a sujeitar-se servirão para mobilizar mais, para resistir mais.
Nesta fase da luta pela construção de uma sociedade liberta da exploração, a capacidade de resistir é uma vitória. Sem lutar não seremos capazes de resistir. Só lutando conseguiremos vencer!